EXAME DO PARCEIRO NA DOENÇA

Peniscopia

Indicações:

Parceiros de pacientes com papilomavirose e/ou lesões pré-neoplásticas genitais.
Pacientes imunodeprimidos (doença HIV, doenças auto-imunes, uso de drogas imunossupressoras, imunodeficiência congênita, etc.)

Técnica:

Com o paciente semi-sentado à mesa ginecológica, quase em pé, iniciamos a ECTOSCOPIA genital à procura de verrugas, pápulas e outras alterações dermatológicas. Logo após, com o auxílio do colposcópio, examinamos o pênis, com especial atenção à parte interna do prepúcio, onde encontramos a maioria das lesões. Capturamos a imagem e partimos para o pincelamento do pênis com algodão apreendido em pinça de Cherron e embebido em solução aquosa a 1% de azul de toluidina até que seque o corante (3 a 5 min.). Descolorimos com ácido acético a 5% e observamos com colposcópio.

Dessa forma abolimos o teste simples do ácido acético a 5% ganhando tempo e não perdendo a especificidade da toluidina (corante vital). Procuramos então condilomas, máculas, pápulas ou placas acetobrancase/ou toluidino-azuis, BEM CIRCUNSCRITAS, que são altamente sugestivas de HPV e/ou PIN (lesões pré-neoplásicas penianas). Capturamos a imagem e fotografamos.

Vale ressaltar que a acidofilia difusa, lesões acetobrancas ou toluidino-azuis em baixo relevo (úlceras, escoriações, erosões, microerosões, etc.) geralmente associam-se à candidose e não à papilomavirose. OS LIMITES nas lesões HPV induzidas SÃO NÍTIDOS. As alterações de cor de forma difusa referem-se à outras balanopostites. Pontilhado vascular pode ser observado na glande ou parte interna do prepúcio e ser compatível com HPV e/ou PIN.

Podemos colher material do 1/3 distal da uretra para estudo citopatológico e/ou virológico (é raríssimo o acometimento de uretra proximal e bexiga). Os resultados em relação ao HPV na citopatologia uretral não são animadores. A maioria das lesões meatais são exofíticas e pequenas, porém visíveis ao colposcópio ou mesmo a olho nú.

Terapêutica:

O tratamento deverá ser discutido com o casal e geralmente (95% dos casos) eles optam por tentar a cura clínica, cientes da latência virótica e possibilidade de recidiva. Escolhemos tratar a maioria das lesões com ácido tricloroacético a 90%, em microcotonete quase seco, com muita cautela e parcimônia, até o limite do paciente. Ele nos conduz em relação ao desconforto. Geralmente basta uma única sessão porque cauterizamos apenas o centro de um grupo de lesões e aguardamos o estímulo da resposta imune para que acabe com as lesões satélites.

Se houver recidivas no mesmo local, mesmo sendo condiloma acuminado clássico, devemos biopsiar e fazer estudo histopatológico.
Algumas lesões como pápulas múltiplas acastanhadas, avermelhadas ou leucoplásicas são típicas de papulose bowenóide (PIN III em sua grande maioria). Em pacientes jovens e imunocompetentes podemos destruí-las com TCA ou outro método destrutivo (crioterapia, laserterapia, etc) e mantermos seguimento RIGOROSO semestral. Se recidivarem, indicamos a exérese das mesmas.

As lesões polimórficas e confluentes que acometem pacientes imunodeprimidos merecem exérese em margem sã com estudo histopatológico (PIN III na maior parte e com grande possibilidade de invasão) e controle RIGOROSO semestral, assim como as placas que são compatíveis com a Doença de Bowen, geralmente acometendo pacientes acima de 60 anos.

Os pontilhados e epitélios acetobrancos e/ou toluidino-azuis BEM DEMARCADOS, sugerem PIN e merecem biopsia com histopatologia antes de decidirmos pela exérese ou destruição. Se destruirmos inicialmente, na primeira recidiva a biopsia se impõe.

Não devemos EXAGERAR no diagnóstico para não agredir na terapêutica. Devemos conduzir os casos individualmente, discutindo com o casal, não agredindo mais que a própria virose, entretanto não negligenciando.

Lembrem-se que a papilomavirose não leva à imunidade duradoura, portanto é importante diminuir a carga virótica do casal ( ou seja, tratar a doença manifestada, se o casal assim desejar). Lembrem-se também que o Brasil é área de risco para câncer de pênis, portanto devemos continuar a pesquisa de lesões pré-neoplásicas penianas. Além disso, parceiras de homens muito infectantes, terão maior probabilidade de contaminação ou reinfecção. Portanto a peniscopia deve Ter seu lugar, da mesma forma que a colposcopia o tem.


Dra. Cláudia Jacyntho