AIDS – NEGAÇÃO DA MESMA ENTRE NÓS

A cada dia, a cada terça-feira, melhor digamos, quando trabalho com aidéticos e me reúno em torno de tal assunto, fico mais estupefata ao cair na realidade ao meu lado: a negação absoluta da doença, desde os cachaceiros do morro até grande “intelectuais”, medrosos mas não assumidos em relação a essa virose. Só mudam os argumentos que de um ouço: ‘- largue disso, esse troço não me pega, que sou macho' e que de outro ouço: ‘não mudo, porque é uma questão ética e moral, portanto continuo vivendo sabendo bem escolher meus parceiros (monogamia seriada – tipo de casamento mais comum entre “intelectuais”).

E dentre esses ‘machos' e sábios escolhedores de parceiros, cifras concretas do CENTER FOR DISEASES CONTROL não fazem senão subir em projeção geométrica, no tocante à infecção pelo HIV entre heterossexuais, não importando o nível sócio-econômico-cultural. Curiosa, mas razoavelmente, há decréscimo de todas Doenças Sexualmente Transmissíveis no grupo homossexual devido ao USO CONSCIENTE DE CONDON.

Como fazer para conscientizar pequenos núcleos em nossa “entourage” e grandes massas com o serviço de Saúde Pública.

Tentar mudar um comportamento sexual liberado que foi conquistado com tanta dificuldade?

Ensinar liberdade com responsabilidade?

Após os movimentos estudantis dos anos 60, o movimento hippie pregando liberdade, o advento do anticoncepcional oral libertando as mulheres para o sexo com orgasmo despreocupante, onde a mulher reivindica mais, quer igualdade na relação e, por vezes, quer mesmo inverter o processo de equalização, caindo num feminismo tão exagerado, tão nojento quanto o machismo outrora tão entranhado em quase todos os homens que nos rodeavam. Com isso e muitos outros fatores que agora não cabem ser discutidos, houve uma grande deficiência na manutenção do núcleo familiar.

Os casamentos se acabam mais facilmente do que antigos namoros, as pessoas trocam tranqüilamente de parceiros(as), mesmo que ainda sonhem em reconstruir um lar; porque o nível de exigência mudou, o modelo passado é caótico e o(s) modelo(s)moderno(s) está(ão) longe de atingir o ideal, caindo numa série de relações monogâmicas frustrantes, e quando não, revoltados com os fracassos, mergulham na poligamia superficial, quase inconsciente.

Um desses pode aparecer diante de nós, com uma cabeça privilegiada, mas sem ao menos ter pensado num exame anti-HIV após 20 ou 30 parceiras(os), porque todos eram esclarecidos e “legais”. Sem ao menos tentar a camisinha, essa pequena borracha de início intimida, mas que hoje é melhor que um bote salva-vidas num naufrágio.

Então, o que fazer, como fazer?

Neutros devemos ser quanto ao comportamento sexual de nossos pacientes, pouco influir no de nossos colegas e talvez, interferir com amor e graça no daqueles que amamos e fazem parte de nosso lar.

Mudar o comportamento sexual? Acredito que isso só ocorra espontânea e gradativamente à medida que as cabeças se arrumem em relação à ascensão feminina no poder global, passando esta a ser admirada pelo macho., tanto quanto nós admiramos o pavão e jamais ser o elo de competição ou frustração. Da mesma forma que haja conscientização lenta e progressiva da massa em relação à propaganda das DST, sobretudo da AIDS.

Portanto, os meios de mudanças ético-morais não devem ser por nós influenciados diretamente, porque não somos Igreja nem tribunal. Entretanto, a conscientização da LIBERDADE SEXUAL COM RESPONSABILIDADE, seja jogando camisinhas de um avião ou prescrevendo condon num receituário, de qualquer forma é válida na tentativa de entranhar a realidade na cabeça da maioria das pessoas que continuam a negar o que VERDADEIRAMENTE existe.

Pode não ser o HIV, mas o X, Y ou Z que causa imunodeficiência, sendo sobretudo de transmissão sexual e MATA.


Dra. Cláudia Jacyntho